Vou falar-vos sobre a iluminação no local de
trabalho, onde irei tratar a temática da “Iluminação”
como um elemento essencial e necessário à segurança e saúde e que certamente
poderá contribuir para a criação de um bom ambiente de trabalho e melhoria da
qualidade deste.
Muitas vezes não damos a devida importância à
iluminação, quer no trabalho, quer nas nossas casas esquecendo-nos que cerca de
80% dos estímulos sensoriais são de natureza óptica.
Uma boa iluminação equivale a requisitos de quantidade
e de qualidade, devendo necessariamente ser adequada à tarefa, tendo em vista o
conforto e a eficiência visual do trabalhador (Piccoli et al, 2004).
Segundo Grandjean (1984), a partir da segunda metade
do Século XX assistiu-se ao crescimento do sector terciário, e ao aumento da
população laboral no sector administrativo. Assistiu-se ao aumento do número e
da variedade de espaços de escritório. Deu-se uma redução de variabilidade das
tarefas, predominando o trabalho em computador, e o aumento do número de horas
diárias ao ecrã do computador. Com esta mudança aparecem os problemas visuais
ligados às condições de iluminação e de visibilidade inadequadas às tarefas
desenvolvidas, conduzindo ao aumento de situações anómalas que põem em risco a
saúde, o conforto e o bem-estar.
Surge, assim, a necessidade de adequar estes espaços
ao homem, valorizando características como o conforto, a saúde, a segurança, o
bem-estar físico e psicológico e a estética, de forma a tornar o ambiente de
trabalho motivante, e a melhorar o desempenho laboral (Veitch et al, 2008).
As condições de iluminação condicionam a percepção e
a sensação do trabalhador face ao conforto visual, que se traduz em fadiga
visual, stress, esforço físico, desmotivação (Veitch et al, 2008).
A
iluminância é a medida do fluxo emitido numa determinada direção por unidade de
superfície. É medida por um aparelho designado luxímetro, constituído por uma célula fotoeléctrica, sendo a unidade
de medida o lux (lx). Este é o conceito que os Técnicos de
Higiene e Segurança no Trabalho utilizam para adequarem o nível de iluminação
com a atividade realizada num determinado espaço, permitindo determinar a
concentração de fluxo luminoso pelo plano de trabalho onde o trabalhador
realiza as tarefas. O seu valor depende da potência luminosa da fonte de
iluminação, mas também da distância a que se encontra do plano de trabalho e do
ângulo que faz com o mesmo. ( Apontamentos da Formação Gestão da Qualidade do
Ar Interior, 2002)
Figura 1 - Luxímetro |
Os
valores de referência utilizados para definirmos o nível de iluminação adequado
a cada atividade constam de normas internacionais, nomeadamente a Norma
DIN 5035-2:1990 e a Norma ISO 8995:2002. No seguinte quadro podemos encontrar alguns exemplos:
Finalidade do Espaço ou Tipo de Actividade
|
Nível Médio de Iluminação [lx]
|
Armazéns: |
|
|
100
|
Espaços de
armazenamento onde são necessárias funções de leitura, expedição:
|
|
·
Áreas de produção constantemente ocupadas na
indústria
·
Montagem de pouca precisão, fundições
·
Construções em aço
·
Áreas de escritório com acesso ao público
|
200
|
Escritórios
com secretárias próximas de janelas, salas de reuniões e de conferências:
|
|
·
Sopragem de vidro, tornear, furar, fresar,
montagem de menor precisão
·
Stands de feiras, secretárias de
comando, salas de comando
·
Locais de venda
|
300
|
Escritórios,
tratamento de dados, secretárias:
|
|
·
Lixar, polir vidro, montagens de precisão
·
Montagem de sistemas de comunicação, motores
de pequenas dimensões
·
Escolha de madeiras
·
Trabalho com máquinas de
carpintaria/marcenaria
|
500
|
Escritórios
de grandes dimensões, elevada reflexão:
|
|
·
Desenho técnico (estirador)
·
Gravação e inspecção em metais
·
Áreas de inspecção (fundição)
·
Controlo de falhas (madeira, cabedal, etc.)
|
750
|
Escritórios
de grandes dimensões, reflexão média:
|
|
·
Análise e controlo de cores, inspecção de
materiais
·
Montagem de aparelhos de precisão (eléctrica)
·
Produção de peças de joalharia, retoques, etc.
|
1000
|
Tabela 1: Iluminâncias recomendada para os ambientes de trabalho, DIN5035
Das
vistorias realizadas em que tive oportunidade de realizar as medições nos postos
de trabalhos dos funcionários, algumas medições deram inferiores aos valores recomendados, entretanto, tive oportunidade de sensibilizar os funcionários desta irregularidade, mas a
conclusão que cheguei é que eles não gostam de trabalhar com
muita luz, isto é, a iluminação deve ser adaptada às necessidades dos ocupantes,
tendo sempre em consideração as características do espaço a iluminar, o fim a
que se destina e os efeitos psicológicos que uma atmosfera iluminada pode
causar nas pessoas. Através de uma correcta combinação da luz solar com a
iluminação artificial, consegue-se obter poupanças significativas em termos de
custo energético e melhorar o nosso conforto.
Os
factores que mais influenciam as condições de iluminação de um determinado local
são:
·
Nível de iluminância do local;
·
Contraste de Luminâncias;
·
Distribuição de Luz;
·
Temperatura de Cor das Fontes Luminosas;
·
Índice de Restituição de Cor das Fontes
Luminosas.
Como
a maioria das medições da iluminação realizadas foram nos postos de trabalho
com écrans de visualizações, vou dar mais relevância nesta situação.
O
trabalho com écrans de visualização poderá afectar a vista do homem. Assim,
visto que a iluminação tem um papel fundamental no posto de trabalho com écrans
de visualização, de seguida apresento as principais características que a mesma
deve apresentar, assim como a sua disposição relativamente aos diferentes
elementos do posto de trabalho.
As
principais tarefas a executar num posto de trabalho com écrans de visualização
colocam em termos de iluminação duas exigências quase opostas. A leitura do
texto e o olhar sobre o teclado requerem um nível de iluminação relativamente
elevado, enquanto a leitura da informação no écran exige um bom contraste entre
os caracteres e o fundo. Pela sua natureza este contraste diminui em função do
aumento do nível da iluminação do local por interferência da luz.
A
qualidade da iluminação do local de trabalho deve ser de modo a não existir
diminuição do contraste no écran de visualização e reflexos, e permitir uma boa
leitura do documento, por isso as recomendações para intensidades de iluminação
divergem bastante entre si.
Geralmente,
tanto trabalhadores como empregadores não estão devidamente sensibilizados para
o problema da iluminação nos locais de trabalho, persistindo a ideia de que o
trabalho nas actividades industriais não exige uma qualidade de iluminação como
a que deve existir no trabalho de escritório, por exemplo.
Referências Bibliográficas:
1- Grandjean,
E. (1984). Ergonomics and health in modern offices. London:
Taylor and Francis.
2- Condições Ergonómicas dos Postos de Trabalho de inspecção na Indústria cerâmica:
3- Condições de Iluminação em Ambiente de Escritório
4- Veitch,
J.; Newsham, G.; Boyce, P.; Jones, C. (2008). Lighting appraisal,
well-being and performance in open-plan offices
well-being and performance in open-plan offices
5- ISO
8995-1:2002 (CIE S 008/E:2001) - Lighting of work places